"Vigilância e Espera" como forma de tratamento

Como alguns sabem, eu estou há dois anos apenas observando meus tumores, estou livre de qualquer tipo de tratamento e medicamento. Eu sou um tanto quanto radical no que se refere a opções de tratamento ao ponto de, se me dessem a chance, escolheria logo o mais agressivo pra ficar livre o mais rápido possível da mazela que eu tiver. Vocês podem imaginar que no começo, ao ver que eu ainda tinha uns centímetros cúbicos de tumor para derrubar sem nenhum medicamento, eu fiquei um tanto quanto paranóica, né?

Como pode existir uma linha de tratamento que se resume a fazer os exames e visitar aos médicos periodicamente? - eu me perguntava.

Pois é justamente este tratamento um dos mais bem sucedidos, com uma probabilidade de 10% de falha, de acordo com este estudo deste ano (2014) que traduzi e que vocês podem ler em inglês aqui:

A política de "vigilância e espera"como primeira linha de tratamento para tumores desmóides extra-abdominais. 
Briand S, Barbier O, Biau D, Bertrand-Vasseur A, Larousserie F, Anract P, Gouin F.

INFORMAÇÕES PRIMORDIAIS: Tumores desmóides extra-abdominais são raros, neoplasmas localmente agressivos, sem potencial metastático. Não há um consenso claro quanto ao melhor tratamento. Os resultados desapontadores dos tratamentos atuais e a habilidade dos tumores desmóides extra-abdominais de estabilizar espontaneamente tem, gradativamente, chamado a atenção para um tramamento mais conservador. O objetivo deste estudo foi avaliar uma conduta de "vigilância e espera" como primeira linha de tratamento para tumores desmóides extra-abdominais.
MÉTODOS: Este estudo retrospectivo desenvolvido em dois centros envolveu 55 pacientes com um tumor desmóide extra-abdominal comprovado histologicamente. O desfecho primário foi a probabilidade cumulativa de abandono da política de "esperar para ver". Esta política incluiu o controle agressivo dos sintomas. Nós conduzimos uma revisão de séries relevantes publicadas que aplicaram a estratégia de vigilância e espera.
RESULTADOS: A probabilidade cumulativa de abandono da política de vigilância e espera foi de 9,6% no último acompanhamento. Parada espontânea do crescimento do tumor foi observado em quarenta e sete pacientes (85%) ao longo do curso do estudo. Metade dos tumores foram estabilizados em um ano, e um potencial para aumentar para além de três anos, foi um evento esporádico (um caso). Novo crescimento foi encontrado em 2 pacientes (4%).
CONCLUSÕES: A política de "vigilãncia e espera" é um tratamento efetivo de primeira linha para pacientes com tumor desmóide extra-abdominal primário ou em recorrência. Estes tumores tendem a estabilizarem espontâneamente, geralmente após um ano de evolução, e a probabilidade cumulativa da falha desta linha de tratamento é de 10%.

Os Desmóides versus Gravidez

Muito se especula sobre as causas de surgimento e das substancias  que alimentam os tumores desmóides, entre elas estão lesões e traumas na região e questões hormonais. Nesta última uma dúvida bastante frequente e dificilmente respondida está a relação com a gravidez. Como nos meses de gestação o corpo de nós, mulheres, recebe uma grande carga de hormônios, será que existe relação entre esse aumento nos níveis hormonais e um possível desenvolvimento do tumor?

A Desmoid Tumor Research Foundation em sua página diz o seguinte:
"Em casos raros o tumor desmóide pode ocorrer em mulheres que estão grávidas. Isto acontece durante a gravidez ou após a cesárea. Muitos acreditam que isto é causado por uma combinação de elevadas taxas hormonais e cirurgia, porém não existe nenhuma evidência científica clara para apoiar esta afirmação. A relação entre a gravidez e tumores desmóides é muito rara e consiste, em sua maioria, de anedotas na literatura científica."
Além desta afirmação, nossa amiga do grupo desmoideano no Facebook, Cláudia Bruna assistiu a um simpósio que tratou do tema e, entre as conclusões estão as seguintes:


Que traduzindo para o português diz:
Conclusões
Ter um desmóide não impede gravidez
-A Mulher não deve ser aconselhada a evitar gravidez
- A mulher não deve ser aconselhada a fazer um aborto caso esteja grávida
Desmóides que apareçam durante a gravidez ou já presente antes dela podem crescer durante o curso da gestação
- Aproximadamente 50% pode evitar cirurgia com sucesso
- 13% das mulheres que se submeteram à cirurgia tiveram recorrência
Desmóides ressecados antes da gestação recorrem com pouca frequência durante a gestação (21%).

Ainda assim é importante frisar que cada caso é diferente, sendo necessário o acompanhamento de perto do médico oncologista e equipe, já que existem casos raros de desenvolvimento do tumor durante a gravidez.