Um consenso na abordagem do Tumor Desmóide de acordo com a localização tumoral



Como alguns sabem, eu estou há 7 anos apenas observando meus tumores, estou livre de qualquer tipo de tratamento e medicamento. Eu era um tanto quanto radical no que se refere a opções de tratamento ao ponto de, se me dessem a chance, escolheria logo o mais agressivo para ficar livre o mais rápido possível da mazela que eu tivesse. Vocês podem imaginar que no começo, ao ver que eu ainda tinha uns centímetros cúbicos de tumor para derrubar sem nenhum medicamento, eu fiquei bem desconfiada, né?
Como pode existir uma linha de tratamento que se resume a fazer os exames e visitar aos médicos periodicamente? - eu me perguntava.
Acontece que, de acordo com um recente estudo (2017) em que foi elaborada uma conduta padrão para o tratamento de tumores desmóides (a partir uma iniciativa consensual entre pacientes, organizações europeias de tratamento e pesquisa de câncer e de sarcomas dos ossos e de partes moles), a primeira linha de tratamento deve ser justamente a da “espera vigilante”. Eu traduzi alguns trechos aqui que explica um pouco a imagem abaixo, mas quem se interessar pelo estudo completo, clica nesse link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959804919308329

“Há um claro consenso de que a estratégia da espera vigilante deve ser a primeira abordagem para pacientes recém diagnosticados, independentemente de dor existente ou outro sintoma clínico, como uma forma de entender o comportamento da doença e personalizar os próximos passos do tratamento. O intervalo de tempo para a espera vigilante pode ser de 1 a 2 anos e o paciente deve ser acompanhado de perto, de preferência com ressonâncias magnéticas com contraste. A primeira avaliação clínica e/ou radiológica deve ser realizada dentro de 8 a 12 semanas, e depois a cada 3 meses no primeiro ano, depois a cada 6 meses até o quinto ano, e anualmente após esse período. No caso de progressão da doença, outras opções de tratamento devem ser discutidas. Para definir o limite para um tratamento ativo, diferentes fatores devem ser levados em conta, como o tamanho inicial do tumor, a velocidade de crescimento, risco a órgãos e nervos (compressão e degradação de função), etc. Na maioria dos casos que apresentam crescimento da tumoração, a estratégia é modificada para um tratamento definitivo ao se confirmar o crescimento por vários exames de imagem consecutivos (3, por exemplo), e os passos seguintes devem ser escolhidos de acordo com o descrito no algoritmo representado na imagem.
No caso de Tumor Desmóide localizado na parede abdominal, a terapia hormonal pode ser uma opção. Uma estratégia mais definitiva seria uma intervenção cirúrgica ou radioterapia.
Para o Tumor Desmóide intra-abdominal, foi claramente acordado que cirurgia permanece como o principal tratamento no caso de crescimento, se o tumor for operável. Para os tumores retro perineais ou pélvicos, quimioterapia deve ser a primeira opção terapêutica. No caso de progressão adicional ou recaída, quimioterapia, cirurgia ou radioterapia seriam opções com preferência à cirurgia se o tumor seja ressecável com preservação da função corporal.
Para tumores das extremidades, parede ou cinturões torácicos, o tratamento inicial deve ser orientado pelo comprometimento funcional ou morbidade pós-operatória esperada. Como isso pode ser altamente subjetivo, as consequências pós-operatórias devem ser amplamente discutidas com o paciente. Se a lesão não envolve vasos ou nervos importantes, a observação estratégica deve ser mantida. Se a lesão ameaça envolver importantes vasos ou nervos, a cirurgia não precisa ser necessariamente a primeira opção; a alternativa seria a quimioterapia, ou radioterapia. Outras opções para o tratamento de tumores nos membros incluem PIM (perfusão isolada do membro), que pode ser considerado para tumores localizados nas extremidades, especialmente aconselhável em tumores multifocais e de mão e pé. Não é comum fazer a ressecção do tumor remanescente. No caso de progressão ou recidiva, a cirurgia pode, então, ser proposta. No caso de margens positivas e situações críticas, a radioterapia adjuvante pode ser considerada.
Para tumores localizados em áreas anatomicamente críticas, como cabeça e pescoço, e tumores intratoráxicos, terapia medicamentosa é geralmente considerada como a primeira linha de tratamento. Contudo, em determinadas condições (idosos, intolerância/preferência do paciente à terapia, comorbidades, crescimento rápido da lesão e ameaça a órgãos vitais, etc.) radioterapia é uma alternativa razoável e efetiva. Em caso de progressão ou recidiva, deve se discutir a radioterapia nestas estruturas altamente sensíveis a radiação. Se a cirurgia for considerada, radioterapia auxiliar deve sempre ser incluída para minimizar o risco de recidiva.